sábado, 22 de agosto de 2009

vaidades acadêmicas

Um amigo de faculdade cita com frequência _e razão_ o excesso de vaidade corrente entre os jornalistas. Mas a presunção não é menos comum entre as fontes, sejam elas da área que for.

No assoviar-e-chupar-cana que é a tarefa de correspondente, achei uma boa ideia ouvir um especialista sobre o Norte do Cáucaso para analisar a recente saraivada de atentados e assassinatos nas republiquetas islâmicas separatistas no sul da Rússia. É claro que eu acompanho o assunto com afinco. Mas decididamente _espero_ não de forma comparável a alguém que vive para estudar os meandros do conflito.

Genebra está 5 horas à frente do Brasil; a ONU, sem gente lá na região, não quer comentar mais do que o tradicional "estamos monitorando com preocupação". Achar um especialista europeu nas férias de agosto numa sexta-feira à beira do fim do expediente (deles, não meu) não é tão simples quanto em outras épocas. Mas vá lá, achei.

Meia hora de conversa com a pessoa tida como uma referência no tema e ela pede para não citá-la. Mas como assim professora? "O assunto é delicado e difícil de explicar". Ora, claro que é. Se não fosse eu não precisaria ouvi-la. Piedade ao leitor. Posso usar suas aspas, senhora? "Ok, mas eu quero conferir." Ok. Abomino o expediente, mas como era uma analista e não um ator da notícia, vamos lá, provavelmente vou usar tal e tal. Preciso escrever ainda, vamos ver como sai. "Você me manda depois e me liga?" Tem certeza, dona? A senhora está de férias e está anoitecendo aí, não? "Por favor." Ok. Texto em produção, mando três ou quatro falas. O assunto é intrincado, o gravador falhou, não custa conferir. Ligo 40 minutos depois, como ela pediu. "Ainda não li, liga daqui meia hora?". Ligo em uma. Meu deadline batendo, outro texto para escrever. "Não li. Mas nem precisa me dizer, não quero que você cite." Mas por que, professora? Nem a sua universidade? WTF? "É um tema muito delicado. Espero que você entenda. E possa se virar sem, já que tem o caminho das pedras." Não posso dona. A essa hora da noite, não ouço mais ninguém. E análise sem referência perde o peso, vou ser obrigada a factualizá-la e deixar claro em algum ponto que ouvi gente sem dizer quem.

Jornalistas, veja bem, às vezes fazem perguntas cretinas. Eu não me importo de fazer algumas perguntas simples (embora não as ache cretinas) para ouvir uma explicação completa de alguém que julgo mais tarimbado. Mesmo que as perguntas simples sigam por um ou outro lado de acordo com meu conhecimento prévio, óbvio. Acho mais honesto isso, inclusive com o leitor, do que amolar o tal do expert apenas para corroborar teses minhas.

Reescrevi tudo sem as aspas, parafraseando, com alusão vaga (o resultado está aqui, e a versão com aspas era melhor). Paciência. Bem ou mal ela colaborou _muito_ em plenas férias. E afinal, fosse a presunção dela qual fosse, a entrevistada não era a matéria.

Um comentário:

Unknown disse...

Xuxu, o link é restrito para assinantes do UOL.

bjs