sábado, 29 de agosto de 2009

adaptação


O simpático mapa, roubado da Wikipedia e de autor desconhecido, mostra a cidade no século 17. Garanto que hoje é mais acolhedora.

Um dia produtivo termina com a solução do dilema entre ter de escolher entre duas pautas importantes e uma taça de vinho à beira do rio, com seus amigos te contando como a cidade um dia foi murada. Engraçado que foi só quando meu amigo (é engraçado o processo pelo qual os respectivos de alguns amigos seus acabam virando também seus amigos) perguntou se eu estava me sentindo adaptada que eu me toquei que sim. Eu me sinto confortável em Genebra. Confortável e curiosa, o que é sempre uma combinação bacana.

É claro que há milhares de pequenas coisas sobre a cidade que eu não sei ainda. Mas vou descobrindo sem dramas. E é incrível como é fácil se virar por aqui. Mesmo com as lojas que fecham. E os genevoises pouco afeitos a horas extras. E o diálogo com cinco horas de delay para o Brasil. E meu francês esquálido. E meu organismo notívago, que sofre num lugar onde tudo começa e termina cedo.

O fato é que está funcionando. Eu tenho já a minha casa, o meu miniposto de trabalho, a minha linha de ônibus, o meu supermercado, o bar da praia, o meu parque e, melhor de tudo, um monte de ideias. Eu tinha esquecido como eu gostava de ser repórter. E de como eu gostava de ouvir pessoas. Da amiga ao antecessor ao colega às fontes aos quase-amigos novos, o tanto que as pessoas têm sido generosas comigo é algo impressionante (aliás, que as pessoas podiam ser generosas assim com estranhos e semiestranhas também é algo de que eu tinha me esquecido).

Hoje bateu o primeiro vento frio à noite. Pode ser que quando a neblina baixar e o sol sumir, eu esqueça de todas as coisas que me empolgam hoje.

Mas pelo menos na acolhida a cidade foi calorosa.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

queremos o fim de tarde no cinema

O título deste post não é meu. É o do cartaz colado em cada um dos impecáveis ônibus da cidade para promover uma campanha dos sindicatos locais. "Nada de tardes no trabalho", continua a peça, ilustrada por um casal empunhando sorvetes que realmente parecem mais os tipos do "The Office" (o inglês, não o americano) do que modeletes. "Abaixo a proposta patronal."

A "proposta patronal", vejam bem, é que as lojas abram até as OITO da noite durante a semana e até as SEIS no sábado. E quatro domingos por ano. QUATRO. Poque não existe aqui precisar comprar algo no domingo.

Eu não vou nem fazer as contas de quanto eu, que faço turno no horário genebrino e também no paulistano, ando trabalhando. Mas é fato que eu não conheço absolutamente ninguém que bata cartão às 9h e às 18h, não trabalhe de fim de semana e saia correndo da firma mesmo com o mundo caindo. Mas os suíços são assim. Por aqui há um ou outro relato de povo de banco que, o horror o horror, dá expediente até as oito da noite. Geralmente são brasileiros ou americanos.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

geneva by night

Estava meio enfurnada nas coisas do jornal quando a amiga nova ligou na noite de sexta. Era umas 20h. A ideia era sair mais tarde, aproveitar o "bar de praia" de Genebra, o Terrasse (vocês vão ver, é uma barraquinha à beira do lago), que me juraram ficar aberto até 1h e pouco, e esquecer que ambas havíamos trabalhado mais de 12 horas.

Chegamos lá exatamente meia-noite e cinco. Desolée, estava fechado. Ainda havia uma muvuquinha. Um povo tomando cerveja, conversando na mureta, bem praia mesmo. Mas logo foi se esvaindo. E olha que esse é um dos ápices da noite genebrina.

Saímos, perambulamos um pouco, achamos um pub perto com mesas na calçada (sem psiu, sem lei antifumo), conseguimos ficar até umas 2h. Depois disso, casa. Ou "casa" pelo menos para mim, porque a amiga derrubou a chave no fosso do elevador e dormiu aqui, com viagem marcada para o dia seguinte cedo.

*
No sábado preferi ver o Larry David reclamar da vida pelo Woody Allen no cinema e, no domingo, achei mais divertido cozinhar para o meu casal preferido. Tipo sete da noite.

A noite genebrina funciona mais assim. Cedo, e de preferência, em casa.

sábado, 22 de agosto de 2009

vaidades acadêmicas

Um amigo de faculdade cita com frequência _e razão_ o excesso de vaidade corrente entre os jornalistas. Mas a presunção não é menos comum entre as fontes, sejam elas da área que for.

No assoviar-e-chupar-cana que é a tarefa de correspondente, achei uma boa ideia ouvir um especialista sobre o Norte do Cáucaso para analisar a recente saraivada de atentados e assassinatos nas republiquetas islâmicas separatistas no sul da Rússia. É claro que eu acompanho o assunto com afinco. Mas decididamente _espero_ não de forma comparável a alguém que vive para estudar os meandros do conflito.

Genebra está 5 horas à frente do Brasil; a ONU, sem gente lá na região, não quer comentar mais do que o tradicional "estamos monitorando com preocupação". Achar um especialista europeu nas férias de agosto numa sexta-feira à beira do fim do expediente (deles, não meu) não é tão simples quanto em outras épocas. Mas vá lá, achei.

Meia hora de conversa com a pessoa tida como uma referência no tema e ela pede para não citá-la. Mas como assim professora? "O assunto é delicado e difícil de explicar". Ora, claro que é. Se não fosse eu não precisaria ouvi-la. Piedade ao leitor. Posso usar suas aspas, senhora? "Ok, mas eu quero conferir." Ok. Abomino o expediente, mas como era uma analista e não um ator da notícia, vamos lá, provavelmente vou usar tal e tal. Preciso escrever ainda, vamos ver como sai. "Você me manda depois e me liga?" Tem certeza, dona? A senhora está de férias e está anoitecendo aí, não? "Por favor." Ok. Texto em produção, mando três ou quatro falas. O assunto é intrincado, o gravador falhou, não custa conferir. Ligo 40 minutos depois, como ela pediu. "Ainda não li, liga daqui meia hora?". Ligo em uma. Meu deadline batendo, outro texto para escrever. "Não li. Mas nem precisa me dizer, não quero que você cite." Mas por que, professora? Nem a sua universidade? WTF? "É um tema muito delicado. Espero que você entenda. E possa se virar sem, já que tem o caminho das pedras." Não posso dona. A essa hora da noite, não ouço mais ninguém. E análise sem referência perde o peso, vou ser obrigada a factualizá-la e deixar claro em algum ponto que ouvi gente sem dizer quem.

Jornalistas, veja bem, às vezes fazem perguntas cretinas. Eu não me importo de fazer algumas perguntas simples (embora não as ache cretinas) para ouvir uma explicação completa de alguém que julgo mais tarimbado. Mesmo que as perguntas simples sigam por um ou outro lado de acordo com meu conhecimento prévio, óbvio. Acho mais honesto isso, inclusive com o leitor, do que amolar o tal do expert apenas para corroborar teses minhas.

Reescrevi tudo sem as aspas, parafraseando, com alusão vaga (o resultado está aqui, e a versão com aspas era melhor). Paciência. Bem ou mal ela colaborou _muito_ em plenas férias. E afinal, fosse a presunção dela qual fosse, a entrevistada não era a matéria.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

churrasco na lage

Acostumando com o horário. Essa coisa de fuso +5h não é bem a vida que eu pedi, já que tenho que começar umas 10h aqui e ir até... 1h? O que vale é parar para jantar. Parar no meio. Você se sente um pouco menos escrava. E a refeição nem é a pizza do Folhão ou o sanduba da padoca.

Teve o dia que a ONU fechou e eu fui no cinema (eram 14h ainda no Brasil, plenty of time para fazer tudo aqui), depois retomei as atividades. Mas bom mesmo foi hoje, que a minha amiga-anja-da-guarda voltou de férias e eu fui jantar na casa dela, que tem uma varandona e nesses dias de verão, com o ventinho do sétimo andar, dá quase para achar que você está em Ipanema. E com direito a churrasco de argentino. Dá até para voltar feliz para a labuta.

Reacostumando com a vida de repórter. Eu dizia, e não ouvia, que não tinha espaço hoje. E o dia que você passou estudando tudo sobre aquele tema complicadíssimo, bem, fica para amanhã.

Minha fase compensação cármica acerta as contas em todos os lados. Quero meu hedge é em churrasco na lage.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

la canicule


O colega desistiu de trabalhar o dia todo enquanto as notícias não acontecessem na cidade. A amiga recebeu um aletrta do organismo internacional onde trabalha orientando os funcionários a se hidratarem o tempo todo (leite, recomendam) e dispensando as gestantes. Na sala de imprensa da ONU, nos últimos dois dias, havia eu e a norueguesa trabalhando quase com roupa de praia, e um senegalês meio período. Ironicamente, os prédios não têm ar-condicionado para não piorar o aquecimento global. Alertas são lançados em todos os países _na Espanha, o termômetro bateu 39ºC.

Eu nunca havia vindo à Europa no verão e achava que essa coisa de reclamar da canicule era exagero de gente branca demais. Agora cá estou, morena (bem como a amiga e o colega) a sofrer dos males do calor. Mal consigo dormir à noite. A janela passa o dia todo aberta. Quero ir para a rua, mas quase nunca dá. Meu trabalho me prende ao computador, e o laptop do jornal esquenta que é uma beleza.

A sensação é que se vai derreter a qualquer momento, dois banhos por dia no mínimo. Meti-me no cinema ontem pelo ar-condicionado, os 18 euros valeram só pelo geladinho. Cozinhar, o passatempo que eu tenha à noite na cidade que dorme cedo, desanima tão logo o fogão esquenta. E nem o parquinho na frente parece mais confortável, a vontade é de se jogar na primeira fonte.

La canicule, o calor escaldante, é a pior nos últimos cinco ou seis anos, diz que mora aqui há tanto. E eu que pus pouca roupa "à brasileira" na mala, dancei.

ps. Café da manhã hoje na casa da amiga querida anja-da-guarda recém voltada de férias. Calor à parte, não dá para reclamar de um dia que começa assim.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

reestréia (este blog não acatou a reforma)


ah, hoje eu moro aqui


Uma alma sábia, que me falava desde terras bem menos amistosas, disse que eu deveria parar de me queixar depois de seguidos muxoxos sobre o tédio desta cidade. Soa meio idiota, mas voltei para casa _trabalhei metade do dia da ONU e metade aqui_ com a contra-reclamação do meu amigo na cabeça. Por que mesmo eu estava resmungando?

Muito deve ser influência do que ouvi nos últimos dias, de pessoas diferentes. Um pouco também a frustração de ver as coisas fecharem tão cedo _ou nem abrirem no domingo. E há toda a saudade, óbvio.
Mas aí fui andando pela cidade.

E, bem, para comecer a ONU é num lugar todo gramado e arborizado. Em frente tinha uns esguichos e uma criançada brincando, o calor passa dos 30 graus. O sol começava a querer se por, oito da noite, mas seria suficiente para me acompanhar por todo o caminho de volta. O bonde estaria ali pontualmente, com lugar para sentar _afinal, 20h genebrino já está em casa jantado_, e me deixaria na estação, de onde eu podia pegar outro ônibus ou caminhar uns 10 minutos até em casa. O apartamento? É espaçoso, bem-cuidado pela Maria (a dona original) e em frente a um parquezinho. Meu ipod rendeu-se aos esforços e shufflou uma sequência morrisey/bjork/eddie vedder + sonic youth/chopin. Eu ainda teria que trabalhar em casa, verdade, mas é minha reestréia como correspondente. Eu adoro escrever e sentia uma falta enorme disso. E na minha geladeira, o vinho e o gruyere são ótimos e custaram barato (ok, o frango é caro).

E de tudo isso sabe o que é melhor? O ar não me deixa com bronquite.

domingo, 16 de agosto de 2009

c'est le eté. mlle. piaf...

não consigo tirar da cabeça, que coisa!

http://www.youtube.com/watch?v=MBoTRF2aK4s

weird coincidences

Quais as chances de você encontrar um amigo no meio da Gare, porque resolveu descer do ônibus e comprar cerveja para o churrasco da amiga-da-amiga que vc ainda nem conhece? Pois é. Encontrei um amigo querido do Brasil hoje no meio da estação, eu atrás de cerveja no único supermercado aberto da cidade, ele atrás da irmã em plenas férias. Ninguém sabia que ninguém ia estar lá. Weird.

Genebra, aliás _não meu amigo, que estava de passagem_ está coalhada de brasileiros, na maioria ilegais. E eu achando que o povo que vinha para cá era essencialmente ligado aos bancos e organizações internacionais. Não. É a comunidade imigrante-ilegal-evangélica, gremilizando. Não passo um dia sem ouvir português na rua. No supermercado. No ônibus. Nem em NYC era assim.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

le lac




Achei que o colega estava de gozação quando disse que ia à praia aqui. Mas ia mesmo. Genebrinos (e cariocas saudosos?) nadam no lago. Sim, aquele do jato d'água... Pelo menos é de graça, ao contrário de qualquer outra coisa aqui.


bien-venue

Este não é um blog de trabalho. Este é um blog para dar notícias aos queridos que ficaram, manter o sarcasmo em forma e falar de coisas mundanas como latícinios, lagos e milhas aéreas.