segunda-feira, 9 de agosto de 2010

vida nova

blog novo: http://rabbitchowder.blogspot.com/

sexta-feira, 11 de junho de 2010

breve

Este blog continuará, mas, sem mais, hoje é só para agradecer à Jana e ao Roman, por serem meus anjos da guarda e companheiros de todas as horas e de sempre.

Ao Assis, pela amizade e a generosidade que com certeza eu levo para sempre, e à Susana, sempre tão hospitaleira e querida.

À Nani, à Grace, à Dulce, à Cau e ao Pablo, pelo carinho, as risadas e a acolhida imediata desta transeunte.

Ao Andrei e ao Fernando, pela concorrência irmã e sempre divertida.

Ao Humberto, à Dora, à Nivea, à Flávia, à Belle, ao Dan, à Ju, enfim, a todos que tornaram um pouco Genebra uma segunda casa para mim.

E ao Roberto, à Talita, à Renate, à Carol, ao Tuca, à Cintia, à Nath, à Dani e à Vanessa, meus amigos de sempre, por me fazerem me sentir em casa em qualquer lugar.

Vocês são todos muito, muito queridos e bem-vindos na minha vida, esteja eu onde estiver, sempre que quiserem.

There will always be something sad about leaving, the melancholic awareness that what once was it is no longer. But there is also good in it. We can only thrive in restarts. Discovering and unfolding, after all, are what make life so thrilling.

(desculpem o inglês, saiu melhor assim.)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

efeméride


Cheers. Às mudanças de tempo, de CEP e de vida.

Hoje faz exatamente 9 meses que eu cheguei a Genebra. E hoje saiu na Folha meu texto n° 400 desde então.

Foi um verão megaquente. Passei depois pelo que dizem ser o pior inverno em cinco anos, que me trouxe uma faringite do cão para (quase) me por de cama pela segunda vez na vida. Até hoje tem assessor do BC que me pergunta se eu melhorei após me ver podre, podre cobrindo o encontro do BIS em janeiro. Que a estrada tem dessas, essa solidariedade forjada, essas preocupações congeladas no momento da última vista.

Agora veio uma primavera bipolar, que na sua esquizofrenia fez sair um arco-íris incrível em Zurique. Saí do Baur au Lac, o hotelão de luxo onde notícias às vezes acontecem, para dar de cara com ele lá fora. E sem nem notar, porque em dias como hoje a gente não olha para o céu (eu, a bem da verdade, não tenho olhado mais quase nunca). Mas a menininha brasileira que conversava com a mãe, ao meu lado, se empolgou. "Olha, mãe, o arco-íris." Olhei eu também.

Dei de cara com um céu esplendoroso em Zurique, meio dourado, meio anuviado, uns roxos-rosados pincelados, surrealista. Havia chovido horrores, eu e a Daniela Milanese (a quem foi uma pena eu ter encontrado só nesta reta final da correspondência) chegamos esbaforidas, "descabeladas", na versão da assessora do BC, fugindo do temporal.

Acho que meu período aqui é meio como o dia de hoje, temporais e céus magníficos. Que começou com um café da manhã na Basileia com minha amiga-irmã que veio do Brasil, incluiu a descoberta de um museu sensacional, seguiu de trem até Zurique para testemunhar Strauss-Khan se vangloriando do renascimento do FMI e no qual coube até conversa com o Paul Volcker -- para depois voltar a Genebra e resgatar Little Lapin na estação.

Pois. Eu sabia que seria bom vir a Genebra antes, sabia que era um momento bacana, em termos jornalísticos, para estar na Europa, sabia que ia ser um período feliz ter a minha outra amiga-irmã perto. E mais do que qualquer outra coisa, eu precisava doentiamente voltar a escrever, a ser repórter. E com tudo isso na conta, eu não sabia que ia ser um período tão definidor.

Não tinha como prever todos os quilômetros rodados, todas as conversas, todas as entrevistas, todas as descobertas. Os amigos sensacionais que eu fiz por aqui não estavam no pacote. A simpatia de algumas fontes também não. Até a concorrência que me estimula a melhorar e melhorar é um achado, tanta é a raridade desse tipo de coisa. E, por paradoxal que seja, a saudade acabou fazendo eu estreitar alguns laços, os maiores e os menores. (Porque a vida de correspondente às vezes é meio solitária e a gente fica tão acessível online que acaba virando um pouco um confessionário.)

Mas, acima de tudo, não estava no scripit esses dias gloriosos de temporal e céu dourado, de café com ruibarbo e viagens de trem, de visitas amadas e amigos novos. Nem, aliás, de notícias que registram uma mudança de paradigmas que eu não achei que fosse pegar, que retratam uma Europa em um transe para o qual os europeus não conseguem atinar.

Então, por mais que por vezes eu reclame, por mais que por vezes eu me canse e soe diferente, eu registro aqui que esses nove meses foram esplendorosos em cada segundo, porque cada um desses mesmos segundos foi vivido intensamente. As discussões e frustações inclusive, que afinal precisamos delas para ter parâmetros.

E eu sou grata. Pela acolhida generosa dos novos amigos, pela paciência infinita dos amigos de sempre, pelo esforço enorme e diário do Rafa e dos meus pais em se manterem com a maior abnegação do mundo tão perto de mim, e pelos poucos chefes e muitos colegas/amigos, de dentro e fora do jornal, que me ajudam (às vezes sem perceber) a achar meu norte nesta profissão.

Nem todos os dias têm arco-íris e céu dourado. Mas não é sensacional quando eles aparecem?
*
Em um mês, eu fecho a lojinha. Depois serão férias, e minha vida muda de novo.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Desfavores do sr. Hemingway


Futura jornalista busca orientação. A torre Eiffel não aponta para porra nenhuma.

Suponho que nos tempos que Hemingway vagava por Paris, vida de correspondente era algo bastante mais difícil e, talvez por muitos aspectos, mais divertido. Seguramente mais divertido para quem ouve e mais novidadesco para quem lia.

Ando meio obcecada pelo homem e fui seguir o roteirinho preparado pelo Michael Palin _do igualmente venerável Monty Phyton_ para a 'Time Out' e ver se via algo diferente. Mas até a placa na porta do prédio onde ele viveu contando trocados e desenvolvendo seu estilo absurdamente direto que eu tanto amo é discreta. Passa batido no turbilhão da rua apinhada de gente, bares e loja de tranqueiras.

A rua é um pequeno caos. Acho engraçado quando as pessoas pensam que ser correspondente tem qualquer glamour. Penso no Hemingway contando os tais trocados. Ou tendo trabalhos rejeitados. A vida do homem não era fácil, ainda que metido em um círculo fabuloso. Quando a sua vida e o seu trabalho são tão ligados que você acha que não seria você de outra forma, tanto pior. E quando você é medíocre, não um gênio... Malditos gênios que alimentaram esse mito do glamour, com o qual agora nós, os medíocres, temos de lidar.

Arrisco também achar que havia algo ligeiramente mais fácil: ser, ou parecer, original. Da mesma coisa que trouxe essa dificuldade nova _e tantas outras facilidades, sobretudo para localizar gente e informação_ veio também o que para mim é um grande paradoxo e que marca bem forte essa temporada aqui. Estar tão perto/tão longe.

Tenho amigos correspondentes muito bem enraizados onde vivem, com família e um círculo sólido. Não é o meu caso. Uma amiga-irmã está aqui, e sou diariamente grata a este pequeno luxo. Conheci algumas pessoas que definitivamente eu levo para a vida toda, e muitas que deixarão uma saudade enorme. Recebi visitas queridas. Receberei outras mais. Eu sou, de fato, abençoada com as pessoas que conheço - e esta nem é uma constatação nova.

Mas eu levo também uma vida completamente alheia de todos. Os que ficaram e os que aqui estão. Vivo em um fuso híbrido que me inviabiliza o contato frequente aqui. E com os que ficaram, bem, hoje não é muita gente que tem o tempo ou a vontade para telefonemas. Com a hiperconectividade, você online o tempo todo, para que ligar, para que ouvir, quando você pode postar como em uma conversa de surdos?

Este é um paradoxo da vida de correspondente, pelo menos quando se é intinerante. Você está tão presente e tão distante. E porque está tão presente, tanta gente acha que realmente sabe o que está acontecendo, ou que é possível julgar o que esteja passando.

Claro que não cabe a ninguém minhas escolhas, e eu sou realizada com elas. Todas elas. Mas o imenso prazer que elas me dão não apaga as horas sozinha, as noites em claro, a impotência de estar longe e a negligência de estar perto sem realmente participar. Eu sou grata ao que me foi permitido e eu multiplico da melhor forma. E isso não compensa os beijos perdidos, abraços interrompidos, copos entornados durante uma boa conversa, a possibilidade de espairecer após um dia ruim. Porque a minha vida não é matemática, eu não somo conquistas e subtraio percalços. Está tudo lá, correndo lado a lado, tão capaz de ser feliz quanto de se sentir melancólico ou triste. Quem gosta de coisas demais e pessoas tantas dificilmente seria de outro jeito.

Culpemos também Mr. Hemingway e os outros mais por fazerem o desfavor de dar esse falso lustro à profissão. Porque houve ele e porque há tantas coisas boas você não pode nunca ousar ter um problema ou achar algo minimamente negativo, afinal, que diabos, você é um abençoado. Fazer uma coisa que todo mundo sabe o que é e tem alguma ideia a respeito, e estar hiperconectado, te deixa exposto e vulnerável a qualquer julgamento. Regra comum, mas que a distância, os desencontros e os desinteresses amplificam. Desconectar não é uma opção, não há silêncio onde se resguardar.

Confortante é minha memória plena, esse saco de coisas boas e ruins misturadas, sem as quais não se avança. Não vim atrás de glamour, ideia idiota. Se a minha vida fosse sempre boa, ou lustrosa ou perfeita ou irreparável, ela seria profundamente aborrecida. Eu sou satisfeita assim. Conformada, jamais.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Praga


Não sei se minha conta de saguão de aeroportos já bateu nos 50 (até o das Ilhas Jersey eu conheço, mesmo sem conhecer as ditas), mas calculo que algo entre uma semana e um mês da minha vida tenha sido perdido entre chegadas e partidas. Hoje mais uma, e as despedidas são cada vez mais doídas. E cada vez mais constantes, com você espalhando pedaços em diferentes cantos.
*
Não sei se minha conta de cidades visitadas já passou das cem, mas a de revisitadas é bem curta. E a páscoa foi para rever aquela que eu acho a mais bonita no mundo, embora haja gente que insista em dizer que é o Rio de Janeiro. Não é, é Praga com suas ruelas estreitas, suas pontes com estátuas debruçando-se muito ousadas sobre o rio Vltva e as igrejas de torres góticas e pedra encardida se amontando em praças e qualquer outro lugar onde houver uma brecha no meio dos telhadinhos vermelhos, com o espírito do Kafka bem provavelmente vagando aqui e ali.

O céu não arroseou como da outra vez, atendo-se a um vermelho esmaecido e depois já um roxo de chegada de primavera. Mas as luzes encheram as marugadas todas, fazendo a cidade transbordar do real ao sonhado, entre sombras e brumas e névoas e brilhos, as tantas estátuas ganhando projeção sem os turistas para se amontoar sobre elas, a torre falsamente prateada cismando em sair por entre os andaimes que já recobrem boa parte da Karlov Most, os restaurantes abertos com o cheiro de comida quente, gulash, sopa de abóbora, pato, e a cerveja enchendo todos os copos, dourada, amarga, encorpada, generosa.

Mas as hordas em rondas eram novas, novas e muito incovenientes, recobrindo todo o espaço nas calçadas e ruas, nos paralelepípidos, nos bondes, nos táxis, nos prédios, nas naves e nas torres, a andar em bandos, em blocos, em arrastão para enloquecer qualquer acrofóbico. Uma progressão geométrica para 1999, quando eles já não eram poucos, mas quando a cidade ainda recebia eslovacos e romenos e tinha mendigos nas praças, o inglês era raro, as lojas de suvenir contáveis e os preços risíveis.

Agora não, agora Praga ainda é a cidade mais bonita do mundo, o castelo no alto vigiando tudo, os telhadinhos lá embaixo, o rio, e mesmo os bairros afastados com seus incontáveis prédios produzidos em linha de montagem pelos programas habitacionais comunistas em uma simpática harmonia que os torna muito mais afáveis que os de Moscou. Mas aí tem o barco oferencendo o 'cruzeiro com jantar e jazz', as excursõs em segways, os bares com música pasteurizada, e toda a sorte de cafonaria, badulaques, menus turísticos e o que o seu bolso cobiçar. Alguma coisa da Praga que eu vi em 1999 não tem lugar em 2010, não existe mais, a cidade borbulhou para perder um pouco da sua essência. De tudo que um dia foi chamado de Leste Europeu talvez nada seja tão ocidental quanto ela, tão pronta agora ao gosto do freguês.

Amanhã Barack Obama e Dmitri Medvedev fazem de Praga o palco de seu novo tratado desarmamentista, e os praguenses contavam orgulhosos aos poucos americanos, 'você sabia que seu presidente estará aqui amanhã?' Não, eles não sabiam.
*
Me pediram para gravar um vídeo-conselho para quem está na faculdade de jornalismo. Eu não consegui e nem ninguém que está aqui está na faculdade de jornalismo, mas eu quero registrar mesmo assim: gaste todo o dinheiro que você puder viajando.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

carnelvético

A banda se esforçava, a vocalista forçava para emular uma ivete (argh) entre marchinhas e música baiana; chamou até o concorrente-direto e sua flauta transversal. Os brasileiros eram poucos e os suíços olhavam desconfiados sem saber se pulavam ou não. A decoração kitch no bar de segundo piso em cima de um teatro/centro de convenções agrada, a cachaça da caipirinha é de quinta (fora que o mito contado por jana é verdade, eles usam gelo moído e açúcar marrom), do nível meio copo já dá ressaca. Tem piriguete na pista (suíça, de malha de oncinha colada ao corpo, mas abotoadíssima) e uns bravos se aventuram num trenzinho. No telão, a Sapucaí, mas sem som. E acaba, claro, 1h30 da manhã.

Pronto, curiosos, é isso o carnaval em Genebra.

Nem amo carnaval e fui só para levar a hóspede inconformada em passar a data longe do namorado. No dia seguinte, tinha combinado um museu às 10h30 (sim, garota-enxaqueca). Prefiro até bem pouca gente encostando em mim, e minha opção sempre foi trabalhar na data para folgar na Páscoa (aqui, esse sim é um feriadão, e terei direito a Sachertorte e namorado, não nessa ordem).

Mas agora estou quase pata-manca aqui, então vou conhecer o que tenho direito.

domingo, 31 de janeiro de 2010

planos


O futuro a Deus pertence? O problema é o clichê. E eu sou agnóstica.

Alguém de 31 anos pode parecer incrivelmente novo ou tremendamente velho dependendo do ponto de vista. (Os seis meses sem análise se condensaram nesta semana de reviravoltas.)

Eu me senti absurdamente velha fazendo palestra para os pré-trainees. Explicar o que eu faço hoje, o que eu já fiz , me faz ver que a menina que saiu da ECA em 1999 está a anos luz de distância. Mais estranho ainda é constatar que a que foi para Nova York em 2004 também, mesmo tendo um casamento e passagem por duas das maiores empresas de mídia do mundo nas costas. Irônico que com 26 eu já me sentisse bem mais velha do que o RG diz.

Claro que eu não fiquei falando nada disso para os pré-trainees, sob pena de matá-los de tédio. Mas foi inevitável que, ao me abrir para uma turma que está começando, ao dar conselhos, ao contar experiências, eu fosse forçada a ter uma visão mais panorâmica do que foram esses 12 anos e meio desde que eu entrei na Reuters, ainda lá na Rua Boa Vista, acampada na sobreloja do Banco Real depois do incêndio, e comecei a entender como eles faziam a cobertura de câmbio (o amigo querido que cobria o tema e me ensinou isso, além de muitas outras coisas em jornalismo, hoje manda na bodega toda).

O tempo passou. O tempo passou e eu tenho mais histórias do que pensava sobre viagens, sobre encontros, sobre coberturas, sobre tentativas, sobre erros e acertos, e, principalmente, sobre gente que entrou para a minha vida.

O tempo passou lindamente, e eu tenho certeza que o usei da melhor forma possível, tropeços inclusos nessa conta sem maiores vergonhas. Detesto planos e os evito o quanto puder. Mas se eu fizesse planos em retrospecto eles não seriam muito diferentes. Nem no timing. Às vezes eu passo tanto tempo reclamando por algo isolado que esqueço de quanto eu sou satisfeita. Não com tudo, claro, mas com o todo.

E aí as coisas mudam subitamente no jornal, e nas conversas tantas sobre o assunto, que puxam sempre o 'você vai fazer o que quando voltar', eu me sinto absurdamente nova.

Nova porque eu não sei. O que eu sei é que eu posso aproveitar quase qualquer chance, porque eu não me importo de mudar nem de recomeçar nem de tentar. E, exatamente como a menina que saiu da ECA em 1999, eu acho que muita coisa é interessante e que com tudo se aprende. E essa é a melhor sensação do mundo.

No fim de semana, meus anjos da guarda oficiais me levaram para passear na neve, tomar vinho, comer comida boa e jogar conversa fora. Aí eu tinha três anos. Bom, exceto pelo álcool.