quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

jornalistas à beira de um ataque de nervos

Coloque 3.500 jornalistas fechados em um pavilhão, dormindo no máximo 5 horas por dia, alimentando-se exclusivamente de cachorro quente (se muito) e maçã, enchendo a cara de coca-cola/café e perseguindo fontes que passam a passos rápidos por corredores apinhados de ativistas fazendo protestos e câmeras _mas isso, só depois de caminhar por 1 km a -1oC e eventualmente esperar em uma fila que pode durar cinco horas. Faça isso por dez dias. E depois diga para eles que pode não sair notícia nenhuma daí.

Got the picture? Está assim a cobertura da conferência do clima em Copenhague.

Acabo de ver uma repórter experiente fofíssima ter um breakdown na minha frente. Não fico muito para trás, eu mesma tenho minivontades de sentar e chorar em alguns momentos. Meu chefe/amigo briga comigo o dia todo. Eu desconto no namorado/editor em São Paulo. A repórter sênior sofre com um commuting de mais de hora para estar de manhã cedo diante do hotel do presidente. A delegação brasileira só chega a atrasada e desencanou de respeitar qualquer agenda (a bem da verdade, outras fazem o mesmo). Os coleguinhas se estranham. Os negociadores se estressam e fogem. A presidente da convenção, ainda que dentro do esperado, renunciou seca para dar lugar a um premiê de voz trêmula e mãos mais ainda.

Os chefes de Estado e governo estão chegando, e terão 48 horas para fechar o que poderia ser o acordo do século, quase 200 países e a causa nobre de salvar gerações do aquecimento global (em alguns casos, salvar países da submersão ou da desertificação mesmo).

Eu tenho uma admiração enorme pelos meus colegas que cobriram guerras, rebeliões, revoltas populares e outras desgraças côngeneres, o que me causa uma certa vergonha de me lamentar pela cobertura de um evento da ONU. Mas a coisa aqui ficou tensa. As pessoas estão com os nervos à toda, a tensão latente começa a explodir.

Mas o pior, pior de tudo, é que quando você sofre e volta para casa com uma grande notícia, você volta, em algum grau, feliz. Soa masoquista? Soa, mas jornalistas somos masoquistas, uns mais outros menos. Aqui, o caso é bem outro. Estamos à beira do ex-futuro-acordo do século oficalmente flopar.

O cheiro de defunto já está nos corredores, mas quem mantém os aparelhinhos ligados é quem está se fazendo de morto.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

sunset


janela melancólica às 16h30

Levantei às 10 horas, e, ainda com a cara amassada, contei que haveria mais ou menos seis horas de sol até eu sair do banho etc etc (não há janela no meu banheiro). A neblina tomou conta, deu lugar só no fim da tarde encurtada a um sol meio tímido que deu as caras por detrás do parque em frente ao apartamento, com suas árvores agora peladas se encurvando tímidas ao frio. Quando a neve chegar talvez fique bonito, agora não.

Foi preciso ligar os aquecedores do apartamento, eu havia me esquecido dessa benesse das altas latitudes. Mas eles levam tempo, e a neblina, o frio, você, seu computador, uma matéria de domingo para escrever e miniapurações por telefone interrompendo-a não são o cenário mais estimulante dessa vida. Nada melhora sem as pessoas de quem você gosta por perto (a bem da verdade, eu tenho três pessoas de quem eu realmente gosto muito aqui e gostarei em qualquer lugar para onde elas forem, mas duas estão isoladas pela gripe e a outra pegou um avião para o Brasil).

Minha conta diz que até o solstício de inverno, o dia mais curto do ano, serão 40 minutos de sol a menos. O que me faz sentir culpada por ter acordado 10h hoje _e só hoje_ e ter perdido quase duas horas de sol. É quase o avesso daquele filme "Insônia", do Chris Nolan, quando o sujeito não dorme por conta da claridade (sono tumultuado, eu fui contemplada com o mesmo mal, a luz quando mal vedada me acorda). Mais um pouco e eu pulo para o nível Jack Nicholson em "O Iluminado".

Eu não sou uma brasileira-padrão, eu gosto do frio, eu gosto da cidade, eu gosto de trabalhar, eu me adapto fácil e tenho uma incrível flexibilidade de horários para funcionar decentemente. Mas esse dia de oito horas e pouco é pouco demais, ainda mais quando as pessoas se trancam em casa, quando o calendário mingua, quando você trabalha tantas horas sem luz quanto com luz.

Mas, dizem, é preciso agradecer porque não há vento.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

sobre quartos de hotel


A concorrência boa. Eu, você e todos nós

Eu devia ter notado antes que não teria disciplina suficiente para manter um blog. Achei que todas as horas de hotel, com a TV falando línguas que eu não falo, me enviariam para o blog. Eu sempre acho errado. Quem tem ânimo para escrever após trabalhar 15 horas? Quando a coberura é coletiva, então, o seu computador não é o lugar onde você quer encerrar o dia. A mesa do bar parece mais interessante. A rua. Anywhere but here.

Como eu vivo em Genebra e já estou a ponto de tomar café com vizinhos e chope (chope?) com diplomata, nenhum convite digno em lugares como Berlim, Copenhague, Roma, até Bruxelas será recusado por esta notívaga.

Nenhuma boa conversa será trocada por uma tela de LCD, qual seja sua dimensão.

Nenhuma taça de vinho será substituída por uma Coca de frigobar.

(Quando os amigos de estrada não estão, o último a me fazer companhia é Mr. Hemingway, Adeus às Armas).

Mesmo que depois de 15 horas de trabalho. Mas, claro, é por isso que eu estou aqui há três meses e parecem três anos. E o engraçado é que você passa a encontrar as pessoas aleatoriamente em capitais europeias e a achar que isso é normal (para eles até é, mas eu me vou de volta um dia no médio prazo). Você começa a achar que a sua vida completamente anormal e descompassada é normal, afinal, a vida dos seus amigos de estrada também é descompassada (menos que a sua, admitamos). E que trens e aviões e salas de espera são sim lugares perfeitamente cabíveis de se trabalhar e também de dormir.

Mas quartos de hotel... Eu admiro as pessoas que conseguem morar em quartos de hoteis. Porque os trens me levam (eu gosto bem mais dos trens do que dos aviões, admito). Mesmo os aviões... Ok, eu não gosto dos aviões. Mas eles me oprimem menos do que os quartos de hotel, ainda mais os 'hotéis de trabalho', esses de rede, comforts e ibises e holidays inns, desprovidos de qualquer personalidade, de qualquer história divertida, de qualquer funcionário disposto a jogar conversa fora. Às vezes eu fico feliz só com uma boa cama ou um banheiro decente, esse nem é o ponto.

O ponto é que eu nunca, nunca, nunca me sinto tão sozinha quanto nos quartos de hotel. Um vácuo que aumenta proporcionalmente à brancura da parede e à funcionalidade dos móveis.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

89;09


O Ampelmann, uma memória afetiva que os belinenses fizeram voltar


Memória afetiva é um troço engraçado, e às vezes tira da gente nosso melhor sem que percebamos.


Eu havia obcecado com a cobertura do Muro de Berlim. Logo eu, que abomino efeméride. E nem sabia direito por que, era institivo. Atazanei meio mundo. Fiz planos mirabolantes. Insisti na viagem. Ativei bem uma dezena de contatos só para fazer as sugestões. Logo eu, que funciono melhor no improviso.


Pois fui para a Alemanha com um ânimo tirado nem sei de onde depois de tanta insistência e de saber que o plano da concorrência era muito mais mirabolante e vinha sendo bem executado. Eu precisava ver no que tinha dado aquilo, 20 anos depois.


Eu tinha 11 anos quando o muro ruiu. Depois de tanto rememorar percebi que essa era a primeira memória histórica importante que eu tinha. É claro, eu lembro de cenas do comício pelas Diretas Já, mas eu tinha 6 anos então e não entendia o que passava. Com 11, vendo na TV as pessoas arrancarem pedaços daquela parede que eu tinha aprendido que dividia o mundo, era outra história. Afinal, minha mãe é professora de história, eu gostava de ler enciclopédia (ah, a geração pré-google...). E, sim, eu era aquela criança xarope que divertia pais e tios respondendo sem errar nomes de presidentes sul-americanos. Em nomvembro de 1989, na TV, eu via as pessoas festejarem e sabia que a história estava mudando. Foi a primeira vez que pensei que, putz, ser jornalista devia ser muito legal.


Aquilo estava tão encalacrado em mim que eu só me dei conta quando cheguei a Berlim e vi o tal muro, ou as sobras dele, recolocadas e pintadas, no foco de tudo que é turista, mas quase desdenhado pelos berlineses como algo já orgânico à cidade.


Ou um pouco antes, em Dresden e Leipzig, quando comecei a coletar as histórias. Eu tinha, afinal, 20 anos depois, virado de menina curiosa em jornalista de internacional. Mas sem escala de uma a outra, o melhor para mim era continuar a ouvir as pessoas contarem, explicarem, dividirem, opinarem. Isso me fascina hoje tanto quanto quando eu era pequena.


Saí coletando as histórias com tanto interesse que no fim o trabalho foi quase como fazerr um documentário. Eu enxertei o contexto, eu pincei as falas, mas o que eu queria era quase dar as imagens do que eu estava vendo, imagens de um país que tinha mudado, pero no mucho, assim como eu havia mudado mas nem tanto.


E as pessoas, tantas pessoas, foram tão generosas em partilhar, tão pródigas em detalhes, em sensações, em gestos, em opiniões, em informações e em emoção que eu podia deixá-las quase falando sozinhas no texto. E aí me deu uma saudade enorme de quando eu fiz e queria fazer mais documentários. É engraçado como 20 anos historicamente não são nada, nem uma vírgula, mas podem ser um mundo novo.


Dividi da melhor forma que eu pude. E, como não era havia muito tempo, fui completamente feliz com a escolha que eu incoscientemente fiz, naquele dia de 1989, assistindo à TV.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

morrendo pela boca


A pujante Genebra à noite. É por isso que não se recusa convite para jantar por aqui

Minha lista de pautas propostas parece o meu cardápio deste fim de semana: feijoada e fondue. E vinho e caipirinha, naturalmente. Ou seja, a ideia parece ótima e você nem morre por isso, mas o interim de digerir a coisa te faz pagar seus pecados.

E por que no meio ainda não ver o filme (ótimo e indigesto) do Haneke? Porque afinal na véspera eu vi uma animação da Pixar, e para que terminar o fim de semana com a sensação de que o mundo é bom se você sempre pode lembrar que o mal pode estar em todos os lugares?

Eu sei que eu invento coisas demais para fazer do que é humanamente capaz. E depois eu faço todas elas e me acabo. Ou não faço todas e me frustro.

Agora, é claro, eu tenho uma lista interminável de coisas em que trabalhar. E sexta-feira finalmente embarco para uma pauta na qual insisto há dois meses. E estou ansiosa, porque falta mais planejamento. E agenda. Fiquei estudando e não apurando.

Para quem ainda acha que vida de correspondente é glamour, não sabe das horas que passamos nos desenroscando de burocracias, bancando agentes de viagem e resolvendo problemas da vida prática que crescem exponecialmente quando você está em um lugar por um tempo longo o bastante para não chamar de viagem e curto o suficiente para não chamar de mudança.

Pensando bem, não são as pautas que parecem feijoada com fondue. É a minha vida.

É tudo uma delícia, mas exaure.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

expat



A escada que leva à casa emprestada

Vida de expatriado sempre consiste em um pouco de tudo emprestado. Terra, casa, língua, hábitos e amigos. Eu nem me vejo como uma expat-padrão, já que meu desterro é relativamente curto e eu sou boa de adaptação. Mas tempo longe de casa em algum momento pesa, por segundos que sejam, mas pesa. Não só pelos laços deixados, mas também pelos adquiridos e pelo quadro esdrúxulo que juntos esses elementos compõem.

Para mim ficou claro quando a Maria, a secretária espanhola que alugou o apartamento onde eu vivo, voltou para casa e disse que o pai tinha morrido. Ela está longe há alguns anos, o namorado vive em Londres, a família em Bilbao, ela aqui. Agora vai mudar para ficar com o namorado. Mas no meio do caminho diagnosticaram um câncer no pai, um espanhol turrão e de coração e barriga grandes, a julgar pelas fotos e pela descrição. E então foi rápido. Ela sabia que ele ia morrer do câncer, eu sabia que ela sabia e já andávamos conversando sobre isso, mas aparentemente ninguém supôs tanta rapidez.

Antes de ela ir a Bilbao, conversamos muito, ele ainda vivo, sobre o que ela esperava. Faz dois meses e meio que eu vivo aqui e os laços já existem, mas são incipientes. Mal nos vemos, ela sai cedo e dorme cedo, eu fico enfurnada no trabalho até tarde, ela vai para Londres vira e mexe, e eu estou mais que feliz em poder viajar bastante. Não sei de onde vêm os laços, mas no desterro eles brotam quando não se espera.

Pois Maria estava triste e eu queria muito lhe dar um abraço, porque nessa hora nem eu, faladeira, tenho o que dizer. Mas os laços são incipientes, Maria é europeia e eu, ciosa demais do espaço alheio, sempre tive pouco da mania de encostar tão brasileira.

O abraço, um meio-abraço, ficou para quando ela voltou, com aquela cara de má notícia típica prenunciada por um email telegráfico. O peso do desterro estava em ambas, muito mais nela, aliás, e o estranhamento que veio daquele momento tão íntimo forjado no acaso logo desmoronou diante de uma necessidade de alento tão óbvia e tão primal.

Tenho a sorte de ter aqui uma amiga-quase-irmã (o que me agrega um amigo quase cunhado) e duas outras pessoas bacanas com quem eu posso contar, uma lista extensa de meio-amigos emprestados e todas as traquitanas da comunicação à distância.

Mas depois da cena com Maria, que me despertou a saudade contida dos meus pais e do meu irmão, este domingo foi de despedida sofrida em aeroporto. E a semana até agora contou dois dias com duas conversas com amigos muito queridos _dos que somam centenas de horas boas e ruins compartilhadas_ em momentos em que eu queria muito muito abraçá-los. Mesmo que com o meu meio-abraço envergonhado.

Enquanto isso, lá fora faz três graus.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

beijo, abraço, aperto de mão


O presidente desaba e a repórter erra o foco

(com as devidas desculpas pela demora. foram dias de caos e ranger de dentes)

Saí de Copenhague com a pecha de "a moça que o presidente abraçou". Abraçou, deu tapinha na cabeça, beijinho de tchau e nenhum resposta. Aliás, deu resposta, mas para a pergunta que ele inventou na cabeça dele, não as minhas.

É claro que ele abraçou coleguinhas também. Mas só eu tive de escrever isso no texto. E ainda agora recebo e-mails diários conta.

Luiz Inácio estava derretendo todo mundo em Copenhague, aquela terra fria e chuvosa. Na mesa de trás uma delegada americana conversava com argentinos que diziam que o presidente dela, o Obama, era o máximo. "Mas vocês já viram o do Brasil? Que figura especial, que pessoa bacana. Eu acho que ele leva."

Pois Luiz Inácio levou. Passou três dias em uma tensão de colocá-lo à beira do choro, mas levou. Perguntei depois como é que aquele sucesso todo, tão colado à imagem dele como foi construído, ia sobreviver ao seu mandato. E o presidente foi o político que é. Disse que o trabalho era do Itamaraty. Logo atrás o ministro Amorim, aquele mesmo que seria chamado em um artigo da Foreign Policy dois dias depois de "o melhor chanceler do mundo", sorria exultante _e eu não me lembro de já ter visto o Amorim exultante.

O Brasil levou tão bem que ganhou claque dos coleguinhas. De um dia para o outro, todos os problemas se dissiparam, todas as perguntas sérias foram esquecidas, todas as confrontações, abandonadas. É claro que jornalista pode ter coração, mas foi a entrevista coletiva mais ridícula que eu já vi. Até coleguinha experiente e culto fazendo pergunta cretina. Para não falar dos cretinos fazendo perguntas hipercretinas.

E eu achando que o presidente dera uma gafe internacional ao dizer que no Japão se dá bom-dia a um premiê e boa-noite a outro. Mas naquele dia ele podia tudo. A coleguinha japonesa do meu lado estourou de rir.

E então Luiz Inácio chorou. Aí... Aí não teve para mais ninguém.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

regina

Regina faz a unha com um olho na vizinha e outro na mão da cliente. Se tivesse o tal do terceiro olho, ele estaria vigiando José instalar o fogão novo, seu orgulho mais recente.

O português punha a cozinha do pequeno apartamento abaixo com a ajuda de um colega mais atrapalhado. "Aqui na Suíça eles já fodem tudo para a instalação, que assim você chama o técnico deles e paga uma nota por um serviço de cinco minutos", diz ela, deixando a amiga emendar uma história sobre dobradiças ao contrário.

Estica o pescoço e confere o que a senhora no andar de baixo, a quem sutilmente chama de "a louca", faz. A rotina aparentemente é repetida várias vezes ao dia, para prejuízo da orelha alheia. "Ninguém aguenta essa mulher não, nem o ex-marido", espeta a amiga. As duas listam o que as leva pensar que "a louca" seja de fato louca por opção. Condescendência nenhuma.

Regina conta que já comprou dois terrenos na sua terra natal, Goiás como a de tantos, e que quer viver de aluguel quando voltar. Estava em Portugal, mas lá o dinheiro não rendia, "trabalhava como louca num asilo como trabalhei em um hospital no Brasil, e não soabrava nada". Fazendo unha da clientela de suíças e expatriadas há quatro anos, diz, a vida ficou bem melhor.

Melhor mesmo só com a chegada de José, que ela conheceu num bar quando trabalhava no balcão. O português de cara fechada não a atraiu de pronto, mas no dia em que ela concluiu que não tinha nada a perder e foi, o clique bateu. Agora Regina quer casar, e está amolecendo o noivo com a promessa de envelhecer em um dos países natais.

De preferência, o dela _mas só depois de uma demonstração empírica ao futuro marido de que o dele não oferece lá muitos atrativos ao casal, conclui. Para viver aposentado bom é o Brasil. Ela franze a testa e divaga. "Até ele se aposentar acho que eu já consegui convencê-lo", se anima. E quanto tempo falta? "Quinze anos." É muito. Muita água para correr.

Balela. A moça pensa a longo prazo, faz conta e tem paciência. "Se ele não quiser, eu caso com outro. Simples assim."

Simples assim.

sábado, 12 de setembro de 2009

pasquale, stefânia e a sogra


Mamma Stefânia mora aqui. Mas meu empenho era num lugar bem mais feio.

Pasquale, Stefânia e a sogra _não sei de qual dos dois, mas a cara diz "sogra" antes de "mãe"_ administram o pequeno hotel em uma cidadezinha italiana. Pasquale se comunica com pessoas que não falam italiano, mesmo que ele não fale outra língua; a sogra cria problemas e Stefânia salva jornalistas atrasados.

Stefânia bateu na porta nesta manhã. Olhei o relógio do celular, e catzo, dizia 8h. Por que a mulher me chamava àquela hora? Eu tinha acordado sozinha três horas antes e estranhado, meu relógio biológico nunca diz "5h, acorda". E agora ela não me deixava dormir direito.

"Suo impegno, signorina, suo impegno a 10!" (escrevo como ouvi, minha tecla SAP está em pane)

"Mas mulher", abro a porta irritada, a faxineira estava atrás dela já tentando entrar no quarto com um esfregão. "OTTO ORA."

"Não. 15 para as 11. Seu compromisso não era às 10?"

Aimeudeus. Olhei apalermada. O celular dizia 8 e pouco. Peguei o relógio, que concordou com Stefânia. Meu "empenho" _aquele que tinha me feito passar a quarta-feira entre aeroportos e aviões e avionetas distintas e antes precisado de horas de telefone em busca de autorizações_ era às 10. Meio-dia acabava, ou até meio-dia poderia entrar por duas horas, até agora não entendi bem a licença. Stefânia me tira do transe. "Mete a ropa, alora!"

Obedeci. Não tomei café-da-manhã. Não tomei banho. Stefânia ainda me chama um "táxi" (não tem aqui, mas eles dão um jeito). Pasquale faz um espresso. A sogra, a que olha para mim e pergunta "mas você vai pagar, né?" toda vez que faço qualquer pergunta, observa. Stefânia me acalma enquanto o tal do táxi não chega, eu já me sentindo uma anta. O táxi vem.

No meio da tarde volto, antes do próximo compromisso, e ela está na portaria sorridente. A sogra pergunta se foi tudo bem. Digo que sim, santa Stefânia. A sogra, que sempre fala com um sotaque impossível, pergunta num italiano claro, "É como tua própria mamma, não é? Te acordando desse jeito."

Não tenho como dizer que não. Quase dou um abraço na Stefania pela boa lembrança. Ser acordada pela mãe sempre foi a terceira melhor maneira de ser acordada. As duas primeiras, afinal, cabem ao Respectivo.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

basiléia


vista do rio Reno.

Drenada pelo sistema bancário internacional

sábado, 5 de setembro de 2009

corrida maluca


Mlle. Lapin, sentindo-se ótima após as intempéries diárias e um pouco de competição

Abro o jornal da concorrência para ver, desgosto meu, que o vice-presidente da Colômbia havia passado por Genebra e o colega o havia pego em algum corredor. Nenhuma grande declaração para mudar o mundo, mas, enfim, é o vice da Colômbia, podemos falar de base para os EUA, Unasul, re-reeleição uribenta, há notícia. E eu, aqui, nem vi, a ONU não sabia, e eu tinha licença das bases (as minhas) para ficar mergulhada em três outras apurações complicadas.

O texto não dizia se era Genebra, e pode parecer óbvio que fosse, mas no caso não era. Eu precisava, ademais, saber se o sujeito ainda estava aqui.

Milhões de telefonemas para a missão da Colômbia, ninguém atende, tentativas randômicas de ramais, nada. Ligações para a ONU, busca na internet, site de tudo quanto é organismo_tudo isso, veja, de umas 10h30 da manhã até umas 14h45 de sexta-feira, no meio de outras coisas, com a amiga/pauteira perguntando se ele ainda estava aqui. Até que, ok, uma das assessoras da ONU diz que o dito cujo tinha um debate que terminava as 15h no Palais des Nations.

Voei até o ponto de ônibus, não tinha troco _os bilhetes aqui só são vendidos em máquinas, com moeda ou cartão específico. Tentei um táxi, ninguém parava. Comprei cartão do ônibus, mas aí não sabia que hora voltaria, só tinha 10 francos no bolso e o crédito do celular no fim. Perdi o ônibus. 14h55.

Em frente, o Correio, com caixa e recarga de celular. O caixa cospe meu cartão. Duas vezes. Entro para recarregar o celular, depois fecha tudo no fim de semana, eu tenho de viajar e danço. Espera, senha, hora de pagar, só aceitamos dinheiro, madame. O caixa está lá fora. Volto, xingo, o caixa, esfrego o cartão. Liga uma conhecida a quem eu havia pedido ajuda para achar um personagem, quase desconto na moça. 15h05.

O dinheiro sai, volto, mais fila, perco outro ônibus, ligo para a missão colombiana e nada, nada. Resolvo esperar e resolver o celular. 15h25.

Espero um táxi dez minutos. Na espera, percebo que perdi meu lencinho amarelo que comprei na Rússia, fico chateada bem menina mesmo. Desisto de ir à ONU, não dá mais para pegar ninguém a essa altura. Balanço a cabeça e começo a me conformar, mas continuo tentando ligar para a missão, lamentando que a essa altura não haveria ninguém. A frustração me faz entrar na loja de tecido em frente para comprar um retalho para um vestido que perdeu a faixa na cintura, "jaune" e "robe" era tudo que eu sabia explicar em francês. Espero a moça cortar, mais uma ligação, a missão atende. 15h35.

"O vice vai estar na sede do Comissariado de Direitos Humanos da ONU às 16h". Toca achar um táxi. Computador, bolsa, sacola, tudo não mão, sem táxi. Pego o endereço, desespero, ligo para o colega-amigo para saber como chegar. Ônibus 1. 15h45. Embarco no 6, ali perto, a motorista me orienta onde pegar o 1. 15h50. Acho o ponto na mão errada. Desisto de procurar, corro para a estação, lá tem táxi. Palais Wilson, por favor. 15h55. Trânsito.

Os guardas são atenciosos, mas me barram. Já liguei, nesse interim, umas quatro vezes para a missão. A reunião começou, não dá para falar com ninguém. Por favor, madame, espere.

Desiludida, desanimada, cansada e me achando uma idiota por passar a chance, decido que não tenho mais a perder se esperar. Umas 7 ligações randômicas depois, uma promessa de que o vice fale na saída. A reunião termina 16h30, passa 10, 15 minutos, nada. 17h, telefone na recepção. Pode vir la peridista brasileña. Pero vienes con nosotros a la mission. Tá bom, vão me dar um balão, cadê o táxi?

Muito fofos, Alma e Álvaro, os diplomatas, me dão carona. Ao chegar _e a constatação de que existe trânsito genebrino_ já são quase 18h. Levam-me até uma salinha. Espio e não tem ninguém. Entro e assusto, o sujeito está meio descansando no sofá. Descalso. Fazendo piadas. É o vice. Preguntame lo que quiera.

19h, ainda ganho carona. Adoro quando parece que tudo vai dar errado, mas dá certo.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

tia magnólia

Tia Magnólia passou o dia na frente do fogão, fazendo feijoada para um bando de brasileiros carentes de casa perdidos por Genebra. Eu não, eu estou aqui há pouco tempo e não fico tanto. Mas claro que isso não é motivo para desprezar um convite para feijoada, ainda mais quando o feijão é raro. Corta. Volta para tia Magnólia.

Tia Magnólia cozinhou para o pequeno batalhão e passou a tarde elencando suas prendas culinárias, vatapá, caruru, tapioca, essas coisas de baiano que fazem salivar. Bob na cabeça, dava ordens, bebia caipirinha, se autoelogiava e mantinha o humor da turma pouco homgênea no alto. Os autoelogios, descobri, eram justos. "Prova meu molho lambão", ela começa dengosa. E acerta na pimenta. "Agora a farofa. Tá de chorar."

Morena de cabelo pintado acajú, está na casa dos 50 e algo, creio, mas ela não diz quanto tem. Usa umas roupas coloridas e está um tantinho acima do peso _e daí, quem se importa, cozinhando tão bem tem mais é que provar mesmo. É daquelas pessoas que ficam íntimas imediatamente, e que todo mundo quer roubar para si. A anfitriã da feijoada é amiga do filho da dona em questão, mas diz que a tia é dela e ninguém tasca. Está ali meio de passagem, meio de vez. Continua morando no Brasil mas vem visitar quando a saudade aperta, fica uns meses, se vira e volta.

Não se queixa da vida. Termina de limpar a cozinha após ter alimentado a tropa, toma um banho rápido e tira os bobs. Vai encontrar o gatinho, tia? "Que gatinho o que, minha filha, olha a minha idade." Ela quer é fazer ciúme para o ex-namorado. Que arrumou outra quando ela voltou para o Brasil e terminou, e agora que ela está aqui de novo, ele ainda não sabe o que fazer com a italiana, "mas ele gosta de mim que eu sei". Pega a bolsa, mas não quer pedir para o pretendente buscá-la, "não tem intimidade para tanto não". Sem se avexar pede para o amigo do filho levá-la para encontrar o paquera lá e o ex também.

E nós ficamos ali, empazinados, 20 anos a menos, preocupações e autocomiseração demais.

Tia Magnólia não. Tia Magnólia sai para dançar.

sábado, 29 de agosto de 2009

adaptação


O simpático mapa, roubado da Wikipedia e de autor desconhecido, mostra a cidade no século 17. Garanto que hoje é mais acolhedora.

Um dia produtivo termina com a solução do dilema entre ter de escolher entre duas pautas importantes e uma taça de vinho à beira do rio, com seus amigos te contando como a cidade um dia foi murada. Engraçado que foi só quando meu amigo (é engraçado o processo pelo qual os respectivos de alguns amigos seus acabam virando também seus amigos) perguntou se eu estava me sentindo adaptada que eu me toquei que sim. Eu me sinto confortável em Genebra. Confortável e curiosa, o que é sempre uma combinação bacana.

É claro que há milhares de pequenas coisas sobre a cidade que eu não sei ainda. Mas vou descobrindo sem dramas. E é incrível como é fácil se virar por aqui. Mesmo com as lojas que fecham. E os genevoises pouco afeitos a horas extras. E o diálogo com cinco horas de delay para o Brasil. E meu francês esquálido. E meu organismo notívago, que sofre num lugar onde tudo começa e termina cedo.

O fato é que está funcionando. Eu tenho já a minha casa, o meu miniposto de trabalho, a minha linha de ônibus, o meu supermercado, o bar da praia, o meu parque e, melhor de tudo, um monte de ideias. Eu tinha esquecido como eu gostava de ser repórter. E de como eu gostava de ouvir pessoas. Da amiga ao antecessor ao colega às fontes aos quase-amigos novos, o tanto que as pessoas têm sido generosas comigo é algo impressionante (aliás, que as pessoas podiam ser generosas assim com estranhos e semiestranhas também é algo de que eu tinha me esquecido).

Hoje bateu o primeiro vento frio à noite. Pode ser que quando a neblina baixar e o sol sumir, eu esqueça de todas as coisas que me empolgam hoje.

Mas pelo menos na acolhida a cidade foi calorosa.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

queremos o fim de tarde no cinema

O título deste post não é meu. É o do cartaz colado em cada um dos impecáveis ônibus da cidade para promover uma campanha dos sindicatos locais. "Nada de tardes no trabalho", continua a peça, ilustrada por um casal empunhando sorvetes que realmente parecem mais os tipos do "The Office" (o inglês, não o americano) do que modeletes. "Abaixo a proposta patronal."

A "proposta patronal", vejam bem, é que as lojas abram até as OITO da noite durante a semana e até as SEIS no sábado. E quatro domingos por ano. QUATRO. Poque não existe aqui precisar comprar algo no domingo.

Eu não vou nem fazer as contas de quanto eu, que faço turno no horário genebrino e também no paulistano, ando trabalhando. Mas é fato que eu não conheço absolutamente ninguém que bata cartão às 9h e às 18h, não trabalhe de fim de semana e saia correndo da firma mesmo com o mundo caindo. Mas os suíços são assim. Por aqui há um ou outro relato de povo de banco que, o horror o horror, dá expediente até as oito da noite. Geralmente são brasileiros ou americanos.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

geneva by night

Estava meio enfurnada nas coisas do jornal quando a amiga nova ligou na noite de sexta. Era umas 20h. A ideia era sair mais tarde, aproveitar o "bar de praia" de Genebra, o Terrasse (vocês vão ver, é uma barraquinha à beira do lago), que me juraram ficar aberto até 1h e pouco, e esquecer que ambas havíamos trabalhado mais de 12 horas.

Chegamos lá exatamente meia-noite e cinco. Desolée, estava fechado. Ainda havia uma muvuquinha. Um povo tomando cerveja, conversando na mureta, bem praia mesmo. Mas logo foi se esvaindo. E olha que esse é um dos ápices da noite genebrina.

Saímos, perambulamos um pouco, achamos um pub perto com mesas na calçada (sem psiu, sem lei antifumo), conseguimos ficar até umas 2h. Depois disso, casa. Ou "casa" pelo menos para mim, porque a amiga derrubou a chave no fosso do elevador e dormiu aqui, com viagem marcada para o dia seguinte cedo.

*
No sábado preferi ver o Larry David reclamar da vida pelo Woody Allen no cinema e, no domingo, achei mais divertido cozinhar para o meu casal preferido. Tipo sete da noite.

A noite genebrina funciona mais assim. Cedo, e de preferência, em casa.

sábado, 22 de agosto de 2009

vaidades acadêmicas

Um amigo de faculdade cita com frequência _e razão_ o excesso de vaidade corrente entre os jornalistas. Mas a presunção não é menos comum entre as fontes, sejam elas da área que for.

No assoviar-e-chupar-cana que é a tarefa de correspondente, achei uma boa ideia ouvir um especialista sobre o Norte do Cáucaso para analisar a recente saraivada de atentados e assassinatos nas republiquetas islâmicas separatistas no sul da Rússia. É claro que eu acompanho o assunto com afinco. Mas decididamente _espero_ não de forma comparável a alguém que vive para estudar os meandros do conflito.

Genebra está 5 horas à frente do Brasil; a ONU, sem gente lá na região, não quer comentar mais do que o tradicional "estamos monitorando com preocupação". Achar um especialista europeu nas férias de agosto numa sexta-feira à beira do fim do expediente (deles, não meu) não é tão simples quanto em outras épocas. Mas vá lá, achei.

Meia hora de conversa com a pessoa tida como uma referência no tema e ela pede para não citá-la. Mas como assim professora? "O assunto é delicado e difícil de explicar". Ora, claro que é. Se não fosse eu não precisaria ouvi-la. Piedade ao leitor. Posso usar suas aspas, senhora? "Ok, mas eu quero conferir." Ok. Abomino o expediente, mas como era uma analista e não um ator da notícia, vamos lá, provavelmente vou usar tal e tal. Preciso escrever ainda, vamos ver como sai. "Você me manda depois e me liga?" Tem certeza, dona? A senhora está de férias e está anoitecendo aí, não? "Por favor." Ok. Texto em produção, mando três ou quatro falas. O assunto é intrincado, o gravador falhou, não custa conferir. Ligo 40 minutos depois, como ela pediu. "Ainda não li, liga daqui meia hora?". Ligo em uma. Meu deadline batendo, outro texto para escrever. "Não li. Mas nem precisa me dizer, não quero que você cite." Mas por que, professora? Nem a sua universidade? WTF? "É um tema muito delicado. Espero que você entenda. E possa se virar sem, já que tem o caminho das pedras." Não posso dona. A essa hora da noite, não ouço mais ninguém. E análise sem referência perde o peso, vou ser obrigada a factualizá-la e deixar claro em algum ponto que ouvi gente sem dizer quem.

Jornalistas, veja bem, às vezes fazem perguntas cretinas. Eu não me importo de fazer algumas perguntas simples (embora não as ache cretinas) para ouvir uma explicação completa de alguém que julgo mais tarimbado. Mesmo que as perguntas simples sigam por um ou outro lado de acordo com meu conhecimento prévio, óbvio. Acho mais honesto isso, inclusive com o leitor, do que amolar o tal do expert apenas para corroborar teses minhas.

Reescrevi tudo sem as aspas, parafraseando, com alusão vaga (o resultado está aqui, e a versão com aspas era melhor). Paciência. Bem ou mal ela colaborou _muito_ em plenas férias. E afinal, fosse a presunção dela qual fosse, a entrevistada não era a matéria.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

churrasco na lage

Acostumando com o horário. Essa coisa de fuso +5h não é bem a vida que eu pedi, já que tenho que começar umas 10h aqui e ir até... 1h? O que vale é parar para jantar. Parar no meio. Você se sente um pouco menos escrava. E a refeição nem é a pizza do Folhão ou o sanduba da padoca.

Teve o dia que a ONU fechou e eu fui no cinema (eram 14h ainda no Brasil, plenty of time para fazer tudo aqui), depois retomei as atividades. Mas bom mesmo foi hoje, que a minha amiga-anja-da-guarda voltou de férias e eu fui jantar na casa dela, que tem uma varandona e nesses dias de verão, com o ventinho do sétimo andar, dá quase para achar que você está em Ipanema. E com direito a churrasco de argentino. Dá até para voltar feliz para a labuta.

Reacostumando com a vida de repórter. Eu dizia, e não ouvia, que não tinha espaço hoje. E o dia que você passou estudando tudo sobre aquele tema complicadíssimo, bem, fica para amanhã.

Minha fase compensação cármica acerta as contas em todos os lados. Quero meu hedge é em churrasco na lage.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

la canicule


O colega desistiu de trabalhar o dia todo enquanto as notícias não acontecessem na cidade. A amiga recebeu um aletrta do organismo internacional onde trabalha orientando os funcionários a se hidratarem o tempo todo (leite, recomendam) e dispensando as gestantes. Na sala de imprensa da ONU, nos últimos dois dias, havia eu e a norueguesa trabalhando quase com roupa de praia, e um senegalês meio período. Ironicamente, os prédios não têm ar-condicionado para não piorar o aquecimento global. Alertas são lançados em todos os países _na Espanha, o termômetro bateu 39ºC.

Eu nunca havia vindo à Europa no verão e achava que essa coisa de reclamar da canicule era exagero de gente branca demais. Agora cá estou, morena (bem como a amiga e o colega) a sofrer dos males do calor. Mal consigo dormir à noite. A janela passa o dia todo aberta. Quero ir para a rua, mas quase nunca dá. Meu trabalho me prende ao computador, e o laptop do jornal esquenta que é uma beleza.

A sensação é que se vai derreter a qualquer momento, dois banhos por dia no mínimo. Meti-me no cinema ontem pelo ar-condicionado, os 18 euros valeram só pelo geladinho. Cozinhar, o passatempo que eu tenha à noite na cidade que dorme cedo, desanima tão logo o fogão esquenta. E nem o parquinho na frente parece mais confortável, a vontade é de se jogar na primeira fonte.

La canicule, o calor escaldante, é a pior nos últimos cinco ou seis anos, diz que mora aqui há tanto. E eu que pus pouca roupa "à brasileira" na mala, dancei.

ps. Café da manhã hoje na casa da amiga querida anja-da-guarda recém voltada de férias. Calor à parte, não dá para reclamar de um dia que começa assim.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

reestréia (este blog não acatou a reforma)


ah, hoje eu moro aqui


Uma alma sábia, que me falava desde terras bem menos amistosas, disse que eu deveria parar de me queixar depois de seguidos muxoxos sobre o tédio desta cidade. Soa meio idiota, mas voltei para casa _trabalhei metade do dia da ONU e metade aqui_ com a contra-reclamação do meu amigo na cabeça. Por que mesmo eu estava resmungando?

Muito deve ser influência do que ouvi nos últimos dias, de pessoas diferentes. Um pouco também a frustração de ver as coisas fecharem tão cedo _ou nem abrirem no domingo. E há toda a saudade, óbvio.
Mas aí fui andando pela cidade.

E, bem, para comecer a ONU é num lugar todo gramado e arborizado. Em frente tinha uns esguichos e uma criançada brincando, o calor passa dos 30 graus. O sol começava a querer se por, oito da noite, mas seria suficiente para me acompanhar por todo o caminho de volta. O bonde estaria ali pontualmente, com lugar para sentar _afinal, 20h genebrino já está em casa jantado_, e me deixaria na estação, de onde eu podia pegar outro ônibus ou caminhar uns 10 minutos até em casa. O apartamento? É espaçoso, bem-cuidado pela Maria (a dona original) e em frente a um parquezinho. Meu ipod rendeu-se aos esforços e shufflou uma sequência morrisey/bjork/eddie vedder + sonic youth/chopin. Eu ainda teria que trabalhar em casa, verdade, mas é minha reestréia como correspondente. Eu adoro escrever e sentia uma falta enorme disso. E na minha geladeira, o vinho e o gruyere são ótimos e custaram barato (ok, o frango é caro).

E de tudo isso sabe o que é melhor? O ar não me deixa com bronquite.

domingo, 16 de agosto de 2009

c'est le eté. mlle. piaf...

não consigo tirar da cabeça, que coisa!

http://www.youtube.com/watch?v=MBoTRF2aK4s

weird coincidences

Quais as chances de você encontrar um amigo no meio da Gare, porque resolveu descer do ônibus e comprar cerveja para o churrasco da amiga-da-amiga que vc ainda nem conhece? Pois é. Encontrei um amigo querido do Brasil hoje no meio da estação, eu atrás de cerveja no único supermercado aberto da cidade, ele atrás da irmã em plenas férias. Ninguém sabia que ninguém ia estar lá. Weird.

Genebra, aliás _não meu amigo, que estava de passagem_ está coalhada de brasileiros, na maioria ilegais. E eu achando que o povo que vinha para cá era essencialmente ligado aos bancos e organizações internacionais. Não. É a comunidade imigrante-ilegal-evangélica, gremilizando. Não passo um dia sem ouvir português na rua. No supermercado. No ônibus. Nem em NYC era assim.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

le lac




Achei que o colega estava de gozação quando disse que ia à praia aqui. Mas ia mesmo. Genebrinos (e cariocas saudosos?) nadam no lago. Sim, aquele do jato d'água... Pelo menos é de graça, ao contrário de qualquer outra coisa aqui.


bien-venue

Este não é um blog de trabalho. Este é um blog para dar notícias aos queridos que ficaram, manter o sarcasmo em forma e falar de coisas mundanas como latícinios, lagos e milhas aéreas.