quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

jornalistas à beira de um ataque de nervos

Coloque 3.500 jornalistas fechados em um pavilhão, dormindo no máximo 5 horas por dia, alimentando-se exclusivamente de cachorro quente (se muito) e maçã, enchendo a cara de coca-cola/café e perseguindo fontes que passam a passos rápidos por corredores apinhados de ativistas fazendo protestos e câmeras _mas isso, só depois de caminhar por 1 km a -1oC e eventualmente esperar em uma fila que pode durar cinco horas. Faça isso por dez dias. E depois diga para eles que pode não sair notícia nenhuma daí.

Got the picture? Está assim a cobertura da conferência do clima em Copenhague.

Acabo de ver uma repórter experiente fofíssima ter um breakdown na minha frente. Não fico muito para trás, eu mesma tenho minivontades de sentar e chorar em alguns momentos. Meu chefe/amigo briga comigo o dia todo. Eu desconto no namorado/editor em São Paulo. A repórter sênior sofre com um commuting de mais de hora para estar de manhã cedo diante do hotel do presidente. A delegação brasileira só chega a atrasada e desencanou de respeitar qualquer agenda (a bem da verdade, outras fazem o mesmo). Os coleguinhas se estranham. Os negociadores se estressam e fogem. A presidente da convenção, ainda que dentro do esperado, renunciou seca para dar lugar a um premiê de voz trêmula e mãos mais ainda.

Os chefes de Estado e governo estão chegando, e terão 48 horas para fechar o que poderia ser o acordo do século, quase 200 países e a causa nobre de salvar gerações do aquecimento global (em alguns casos, salvar países da submersão ou da desertificação mesmo).

Eu tenho uma admiração enorme pelos meus colegas que cobriram guerras, rebeliões, revoltas populares e outras desgraças côngeneres, o que me causa uma certa vergonha de me lamentar pela cobertura de um evento da ONU. Mas a coisa aqui ficou tensa. As pessoas estão com os nervos à toda, a tensão latente começa a explodir.

Mas o pior, pior de tudo, é que quando você sofre e volta para casa com uma grande notícia, você volta, em algum grau, feliz. Soa masoquista? Soa, mas jornalistas somos masoquistas, uns mais outros menos. Aqui, o caso é bem outro. Estamos à beira do ex-futuro-acordo do século oficalmente flopar.

O cheiro de defunto já está nos corredores, mas quem mantém os aparelhinhos ligados é quem está se fazendo de morto.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

sunset


janela melancólica às 16h30

Levantei às 10 horas, e, ainda com a cara amassada, contei que haveria mais ou menos seis horas de sol até eu sair do banho etc etc (não há janela no meu banheiro). A neblina tomou conta, deu lugar só no fim da tarde encurtada a um sol meio tímido que deu as caras por detrás do parque em frente ao apartamento, com suas árvores agora peladas se encurvando tímidas ao frio. Quando a neve chegar talvez fique bonito, agora não.

Foi preciso ligar os aquecedores do apartamento, eu havia me esquecido dessa benesse das altas latitudes. Mas eles levam tempo, e a neblina, o frio, você, seu computador, uma matéria de domingo para escrever e miniapurações por telefone interrompendo-a não são o cenário mais estimulante dessa vida. Nada melhora sem as pessoas de quem você gosta por perto (a bem da verdade, eu tenho três pessoas de quem eu realmente gosto muito aqui e gostarei em qualquer lugar para onde elas forem, mas duas estão isoladas pela gripe e a outra pegou um avião para o Brasil).

Minha conta diz que até o solstício de inverno, o dia mais curto do ano, serão 40 minutos de sol a menos. O que me faz sentir culpada por ter acordado 10h hoje _e só hoje_ e ter perdido quase duas horas de sol. É quase o avesso daquele filme "Insônia", do Chris Nolan, quando o sujeito não dorme por conta da claridade (sono tumultuado, eu fui contemplada com o mesmo mal, a luz quando mal vedada me acorda). Mais um pouco e eu pulo para o nível Jack Nicholson em "O Iluminado".

Eu não sou uma brasileira-padrão, eu gosto do frio, eu gosto da cidade, eu gosto de trabalhar, eu me adapto fácil e tenho uma incrível flexibilidade de horários para funcionar decentemente. Mas esse dia de oito horas e pouco é pouco demais, ainda mais quando as pessoas se trancam em casa, quando o calendário mingua, quando você trabalha tantas horas sem luz quanto com luz.

Mas, dizem, é preciso agradecer porque não há vento.