quarta-feira, 12 de maio de 2010

efeméride


Cheers. Às mudanças de tempo, de CEP e de vida.

Hoje faz exatamente 9 meses que eu cheguei a Genebra. E hoje saiu na Folha meu texto n° 400 desde então.

Foi um verão megaquente. Passei depois pelo que dizem ser o pior inverno em cinco anos, que me trouxe uma faringite do cão para (quase) me por de cama pela segunda vez na vida. Até hoje tem assessor do BC que me pergunta se eu melhorei após me ver podre, podre cobrindo o encontro do BIS em janeiro. Que a estrada tem dessas, essa solidariedade forjada, essas preocupações congeladas no momento da última vista.

Agora veio uma primavera bipolar, que na sua esquizofrenia fez sair um arco-íris incrível em Zurique. Saí do Baur au Lac, o hotelão de luxo onde notícias às vezes acontecem, para dar de cara com ele lá fora. E sem nem notar, porque em dias como hoje a gente não olha para o céu (eu, a bem da verdade, não tenho olhado mais quase nunca). Mas a menininha brasileira que conversava com a mãe, ao meu lado, se empolgou. "Olha, mãe, o arco-íris." Olhei eu também.

Dei de cara com um céu esplendoroso em Zurique, meio dourado, meio anuviado, uns roxos-rosados pincelados, surrealista. Havia chovido horrores, eu e a Daniela Milanese (a quem foi uma pena eu ter encontrado só nesta reta final da correspondência) chegamos esbaforidas, "descabeladas", na versão da assessora do BC, fugindo do temporal.

Acho que meu período aqui é meio como o dia de hoje, temporais e céus magníficos. Que começou com um café da manhã na Basileia com minha amiga-irmã que veio do Brasil, incluiu a descoberta de um museu sensacional, seguiu de trem até Zurique para testemunhar Strauss-Khan se vangloriando do renascimento do FMI e no qual coube até conversa com o Paul Volcker -- para depois voltar a Genebra e resgatar Little Lapin na estação.

Pois. Eu sabia que seria bom vir a Genebra antes, sabia que era um momento bacana, em termos jornalísticos, para estar na Europa, sabia que ia ser um período feliz ter a minha outra amiga-irmã perto. E mais do que qualquer outra coisa, eu precisava doentiamente voltar a escrever, a ser repórter. E com tudo isso na conta, eu não sabia que ia ser um período tão definidor.

Não tinha como prever todos os quilômetros rodados, todas as conversas, todas as entrevistas, todas as descobertas. Os amigos sensacionais que eu fiz por aqui não estavam no pacote. A simpatia de algumas fontes também não. Até a concorrência que me estimula a melhorar e melhorar é um achado, tanta é a raridade desse tipo de coisa. E, por paradoxal que seja, a saudade acabou fazendo eu estreitar alguns laços, os maiores e os menores. (Porque a vida de correspondente às vezes é meio solitária e a gente fica tão acessível online que acaba virando um pouco um confessionário.)

Mas, acima de tudo, não estava no scripit esses dias gloriosos de temporal e céu dourado, de café com ruibarbo e viagens de trem, de visitas amadas e amigos novos. Nem, aliás, de notícias que registram uma mudança de paradigmas que eu não achei que fosse pegar, que retratam uma Europa em um transe para o qual os europeus não conseguem atinar.

Então, por mais que por vezes eu reclame, por mais que por vezes eu me canse e soe diferente, eu registro aqui que esses nove meses foram esplendorosos em cada segundo, porque cada um desses mesmos segundos foi vivido intensamente. As discussões e frustações inclusive, que afinal precisamos delas para ter parâmetros.

E eu sou grata. Pela acolhida generosa dos novos amigos, pela paciência infinita dos amigos de sempre, pelo esforço enorme e diário do Rafa e dos meus pais em se manterem com a maior abnegação do mundo tão perto de mim, e pelos poucos chefes e muitos colegas/amigos, de dentro e fora do jornal, que me ajudam (às vezes sem perceber) a achar meu norte nesta profissão.

Nem todos os dias têm arco-íris e céu dourado. Mas não é sensacional quando eles aparecem?
*
Em um mês, eu fecho a lojinha. Depois serão férias, e minha vida muda de novo.

2 comentários:

Blubell disse...

Dona Bunny, tô muito orgulhosa!! Esse casal tá fueda... Se eu fosse competitiva, estaria pensando "Caraca. Agora vou ter que ganhar o grammy"...

beijos mil e ótimas e merecidíssimas férias!

Unknown disse...

Pois eu tb saí do hotel a tempo de pegar esse arco-íris, pra fechar nossa cobertura Basileia-Zurique. E sei bem do que vc tá falando sobre vida de correspondente. É doidera que vale a pena. Boas férias!
Bjs,
Dani