sábado, 5 de setembro de 2009

corrida maluca


Mlle. Lapin, sentindo-se ótima após as intempéries diárias e um pouco de competição

Abro o jornal da concorrência para ver, desgosto meu, que o vice-presidente da Colômbia havia passado por Genebra e o colega o havia pego em algum corredor. Nenhuma grande declaração para mudar o mundo, mas, enfim, é o vice da Colômbia, podemos falar de base para os EUA, Unasul, re-reeleição uribenta, há notícia. E eu, aqui, nem vi, a ONU não sabia, e eu tinha licença das bases (as minhas) para ficar mergulhada em três outras apurações complicadas.

O texto não dizia se era Genebra, e pode parecer óbvio que fosse, mas no caso não era. Eu precisava, ademais, saber se o sujeito ainda estava aqui.

Milhões de telefonemas para a missão da Colômbia, ninguém atende, tentativas randômicas de ramais, nada. Ligações para a ONU, busca na internet, site de tudo quanto é organismo_tudo isso, veja, de umas 10h30 da manhã até umas 14h45 de sexta-feira, no meio de outras coisas, com a amiga/pauteira perguntando se ele ainda estava aqui. Até que, ok, uma das assessoras da ONU diz que o dito cujo tinha um debate que terminava as 15h no Palais des Nations.

Voei até o ponto de ônibus, não tinha troco _os bilhetes aqui só são vendidos em máquinas, com moeda ou cartão específico. Tentei um táxi, ninguém parava. Comprei cartão do ônibus, mas aí não sabia que hora voltaria, só tinha 10 francos no bolso e o crédito do celular no fim. Perdi o ônibus. 14h55.

Em frente, o Correio, com caixa e recarga de celular. O caixa cospe meu cartão. Duas vezes. Entro para recarregar o celular, depois fecha tudo no fim de semana, eu tenho de viajar e danço. Espera, senha, hora de pagar, só aceitamos dinheiro, madame. O caixa está lá fora. Volto, xingo, o caixa, esfrego o cartão. Liga uma conhecida a quem eu havia pedido ajuda para achar um personagem, quase desconto na moça. 15h05.

O dinheiro sai, volto, mais fila, perco outro ônibus, ligo para a missão colombiana e nada, nada. Resolvo esperar e resolver o celular. 15h25.

Espero um táxi dez minutos. Na espera, percebo que perdi meu lencinho amarelo que comprei na Rússia, fico chateada bem menina mesmo. Desisto de ir à ONU, não dá mais para pegar ninguém a essa altura. Balanço a cabeça e começo a me conformar, mas continuo tentando ligar para a missão, lamentando que a essa altura não haveria ninguém. A frustração me faz entrar na loja de tecido em frente para comprar um retalho para um vestido que perdeu a faixa na cintura, "jaune" e "robe" era tudo que eu sabia explicar em francês. Espero a moça cortar, mais uma ligação, a missão atende. 15h35.

"O vice vai estar na sede do Comissariado de Direitos Humanos da ONU às 16h". Toca achar um táxi. Computador, bolsa, sacola, tudo não mão, sem táxi. Pego o endereço, desespero, ligo para o colega-amigo para saber como chegar. Ônibus 1. 15h45. Embarco no 6, ali perto, a motorista me orienta onde pegar o 1. 15h50. Acho o ponto na mão errada. Desisto de procurar, corro para a estação, lá tem táxi. Palais Wilson, por favor. 15h55. Trânsito.

Os guardas são atenciosos, mas me barram. Já liguei, nesse interim, umas quatro vezes para a missão. A reunião começou, não dá para falar com ninguém. Por favor, madame, espere.

Desiludida, desanimada, cansada e me achando uma idiota por passar a chance, decido que não tenho mais a perder se esperar. Umas 7 ligações randômicas depois, uma promessa de que o vice fale na saída. A reunião termina 16h30, passa 10, 15 minutos, nada. 17h, telefone na recepção. Pode vir la peridista brasileña. Pero vienes con nosotros a la mission. Tá bom, vão me dar um balão, cadê o táxi?

Muito fofos, Alma e Álvaro, os diplomatas, me dão carona. Ao chegar _e a constatação de que existe trânsito genebrino_ já são quase 18h. Levam-me até uma salinha. Espio e não tem ninguém. Entro e assusto, o sujeito está meio descansando no sofá. Descalso. Fazendo piadas. É o vice. Preguntame lo que quiera.

19h, ainda ganho carona. Adoro quando parece que tudo vai dar errado, mas dá certo.

Um comentário:

Phydia de Athayde disse...

demais, lu. o detalhe de que o cara estava descalço, contando piada, é o melhor!
:)
bjs